terça-feira, 28 de abril de 2015

COMUNICAÇÃO - "JORNAL AGORA DESTACA UMA MATÉRIA COM O RADIALISTA JOÃO VALENTIM"

Por Júlio César, Raspinha, do Jornal Agora - Rosto inchado, fala pausada, passo lento e uma rotina totalmente doméstica. Vítima de transtorno bipolar e de uma “profunda” depressão, João Valentim, 44 anos, está muito longe do radialista ativo que por mais de 25 anos animou as manhãs de muitos ouvintes da região. Com passagem por mais de 10 rádios da região, entre elas a Guairacá de Mandaguari, além de emissoras de televisão, foi em Borrazópolis, quando era apresentador da Rádio Nova Era que surgiram os primeiros sintomas da doença. Foi a primeira vez que Valentim recebeu uma equipe de reportagem e relatou detalhes da doença que enfrenta desde 2010. Morando em um bairro tranquilo do município de Borrazópolis com a esposa Rose e os filhos Larissa e Wellyngton, evita locais públicos e aglomerações, características da doença. Fobia: Ativo e “sem parada”, como se definia, João Valentim sempre teve dificuldades em “ficar fechado” em uma empresa. Foi assim durante toda a sua carreira. Sua trajetória começou nos anos 90 como operador de som na Rádio Atalaia de Maringá. Tornou-se repórter e locutor e aí andou a região vivendo sua grande paixão, a comunicação. “Sempre foi meu sonho. Um dia vou voltar ainda, se Deus quiser”, acredita. Depois da Atalaia, trabalhou na extinta Rádio Difusora de Maringá, Ingamar de Marialva, Caiuá FM de Paranavaí, Cidade FM (hoje Mix) Maringá, Cultura (hoje Mundo Livre), Guairacá, Princesa e Liberdade, ambas de Roncador, teve uma passagem pela Rádio Brasil Novo de Jaraguá do Sul-SC, RTV e TV Tibagi de Maringá e, por último, na Rádio Nova Era de Borrazópolis. Ufa! “Andei muito e adorava essa vida”, recorda. Os primeiros sinais da doença surgiram na apresentação de um evento em Ivaiporã, no Ginásio de Esportes “Sapecadão”. “Chovia muito, apagou a luz do ginásio e entrei em desespero”, relata. Foi quando partiu em busca de ajuda profissional. Sintomas: Paralelo a esse episódio, a esposa Rose, o tempo todo ao seu lado, conta que o marido passou a ter crises de labirintite, além de sintomas evidentes de depressão, como tristeza profunda e desânimo. “É uma luta diária. É uma doença silenciosa que muitas pessoas insistem em chamar de ‘frescura’. Mas é séria, vivemos isso dentro de casa”, explica a esposa, que deixou de trabalhar para cuidar do marido, hoje aposentado. Ainda em tratamento, o locutor chegou a ensaiar uma volta aos microfones da Nova Era, que comandava das 7h30 às 10h todas as manhãs. “Ele fez a abertura do programa e quando ia soltar uma frase que costumava falar, caiu em prantos e tive que assumir seu lugar na locução. Foi seu último programa, há quatro anos.” O relato é do filho, Wellyngton Jhonis, que a exemplo do pai é comunicador, estudante de Jornalismo e tem um dos blogs mais acessados do Vale. Família: Doente e afastado do trabalho, João Valentim viu também os amigos sumirem. “Nessas horas sobra só a família”, lembra a esposa. “Houve algumas pessoas que ajudaram, que se prontificaram, mas bem poucos”, completa Wellyngton. Por causa da doença, o radialista evita ouvir rádio, exatamente para não se confrontar com temas que podem estimular sintomas da doença. “Eu perdi o hábito, a emoção de ouvir rádio”, explica. Mesmo noticiários na televisão que trazem temas sobre violência ou dor são evitados pelo comunicador. “Notícias que causam medo estimulam a depressão. Nós evitamos programas melancólicos porque provocam tristeza e desânimo”, lembra a esposa. Valentim sai pouco de casa. Às vezes, apenas uma caminhada rápida próxima à residência. Em eventos, praticamente não vai. “Aqui em casa, quando tem confraternização da família, ele participa um pouco, mas se recolhe na sequência”, detalha Rose Valentim. Mesmo vítima de transtorno bipolar, uma doença incurável, mas que pode ser tratada e controlada à base de medicamentos, João Valentim não esconde um sonho. “Tenho muita vontade de voltar a trabalhar. Quem sabe um dia Deus me dá essa oportunidade”, finaliza. *Reportagem publicada na 108ª edição do Jornal Agora. LEIA MAIS.