segunda-feira, 20 de julho de 2015

DATA - "Geada negra, que erradicou todo o plantio de café no Norte do PR, completa 40 anos"

As alterações na formação urbana e econômica são duas das marcas que permanecem quatro décadas após um dos maiores golpes sofridos nas lavouras paranaenses
JORNAL DE LONDRINA - O ouro verde virou cinzas da noite para o dia. Um cheiro forte de café torrado tomou conta de toda Região Norte do Paraná. A Geada Negra não poupou ninguém e a manhã de 18 de julho de 1975 mudou para sempre a história do estado. As alterações na formação urbana e econômica são duas das marcas que permanecem quatro décadas após um dos maiores golpes sofridos nas lavouras paranaenses. A soja assumiu a dianteira do mercado agrícola e a população rural teve uma redução de 60% em 40 anos – passando de 4,5 milhões de pessoas para 1,5 milhão. Cerca de 300 mil famílias de trabalhadores ficaram sem emprego. O prejuízo chegaria a 600 milhões de cruzeiros – na época esse valor equivalia a 75 milhões de dólares –, apenas nas lavouras de café. “Ninguém gosta de lembrar muito, não. Foi difícil para nossa região essa Geada Negra. A principal atividade agrícola era o café”, conta Samuel Faustino Romero Sanches Filho, que tinha 18 anos quando viu a cultura cafeeira iniciada ainda por seu avô, na década de 1940, ser completamente dizimada. Ao olhar pela janela da fazenda em que morava, em Londrina, no Norte Novo, Samuel teve a ingrata surpresa de ver o chão todo coberto de gelo. “Com o passar do dia, a cor foi mudando e dois dias após foi sofrido ver a lavoura toda seca, queimada”. Estima-se que o frio alcançou a marca de 3,5° C negativos, no abrigo. Mais de 850 milhões de pés de café foram queimados – 80 mil na lavoura da família de Samuel. Ao pisar no campo para conferir o prejuízo, o solo ruía tal qual um gelo rachando. Ao ver a situação dos pés de café, alguns trabalhadores e proprietários não seguraram as lágrimas. O desespero era inevitável. A cultura do café nunca mais se recuperaria de tamanho baque. Para quem plantava, era como ter a casa devastada.