terça-feira, 9 de junho de 2015

Dilma diz que crise diplomática com EUA é 'uma questão do passado'

Presidente falou a jornal belga sobre incidente envolvendo espionagem.
Petista chegou a cancelar visita de Estado aos EUA após denúncias.

O presidente Barack Obama e a presidente Dilma Rousseff durante encontro na Cúpula das Américas, na Cidade do Panamá (Foto: Jonathan Ernst/Reuters)Dilma e Obama se encontraram pela última vez em abril, na Cúpula das Américas, no Panamá. (Foto: Jonathan Ernst/Reuters)

A presidente Dilma Rousseff afirmou ao jornal belga "Le Soir" que a crise diplomática com os Estados Unidos gerada após a revelação de que agências de inteligência norte-americanas espionaram a petista, além de cidadãos e empresas do Brasil, é “uma questão do passado”. Esta é a primeira vez que a presidente fala publicamente que, na avaliação dela, o mal-estar diplomático com a Casa Branca está superado.
A entrevista de Dilma, concedida na última sexta-feira (5), foi publicada nesta segunda (8) no site do jornal da Bélgica.
Em 2013, documentos sigilosos classificados como "ultrasecretos" vazados pelo ex-prestador de serviços da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) Edward Snowden revelaram que os EUA monitoraram atividades de outros países e de seus líderes, incluindo Dilma e a chanceler alemã Angela Merkel. O material obtido por Snowden revela que os espiões interceptaram e-mail e telefonemas da presidente brasileira.
“[A crise diplomática] é uma questão do passado, mas ele deve aprender. Em primeiro lugar, o reconhecimento de que a defesa da segurança não é incompatível com a defesa da privacidade e respeito à soberania dos países”, disse a presidente.
Em razão do mal-estar diplomático, as relações entre o Palácio do Planalto e a Casa Branca ficaram estremecidas. Irritada com o episódio, a presidente brasileira fez um duro discurso na Assembleia das Nações Unidas condenando a espionagem norte-americana e cancelou, em setembro daquele ano, uma visita de Estado que faria a Washington.
No ano passado, após ser reeleita, Dilma conversou por telefone com o colega dos Estados Unidos, Barack Obama, que havia ligado para parabenizá-la pela vitória nas urnas. Na ligação, a presidente do Brail esboçou uma reaproximação com o chefe de Estado norte-americano, afirmando ter 'todo interesse' em estreitar a relação com EUA.
Desde a denúncia da NSA, o governo Obama prometeu que não espionaria países amigos. Dilma disse que levaria isso em consideração. Obama, por sua vez, brincou e disse que, toda vez que precisasse de informações, ligaria diretamente para ela.

O último encontro entre Dilma e Obama ocorreu em abril deste ano, durante a VII Cúpula das Américas, no Panamá. Na reunião, os dois presidentes acertaram que ela irá aos Estados Unidos em 30 de junho.
Na entrevista que foi publicada nesta segunda, Dilma ressaltou que sua relação com Obama “sempre foi alta, muito boa”. A presidente afirmou que, diante das denúncias de espionagem, o colega norte-americano teve atitude “muito respeitosa” com ela e tratou do assunto de maneira “muito elegante”.
A declaração de Dilma ao jornal belga faz parte de uma série de entrevistas que ela concedeu na semana passada a veículos de imprensa europeus. Nesta terça (9), a petista embarcará para Bruxelas (Bélgica), onde participará nos dias 10 e 11 da Cúpula União Europeia – Celac, que reunirá líderes de países europeus e do continente americano. A presidente também falou às TVs Deutsch Welle (Alemanha) e France 24 (França).
Ajuste fiscal
Na entrevista ao jornal belga, a presidente voltou a defender as medidas de ajuste fiscal propostas pelo governo federal para reduzir gastos e reequilibrar as contas da União. Dilma afirmou que as ações impopulares são necessárias para a retomada do crescimento econômico e que foi preciso “coragem” para adotá-las.

“O ajuste é essencial, não é algo que você pode fazer ou não fazer. Não há alternativa a não ser fazê-lo e, para isso, é preciso coragem para, então, voltar ao nosso programa de crescimento”, declarou a presidente.
Em diversos eventos dos quais participou neste ano, Dilma afirmou que o ajuste é necessário para manter os programas sociais e fazer com que o Brasil retome o crescimento econômico.
Ao "Le Soir", a presidente avaliou que os países precisam ter capacidade de se adaptar ao atual cenário econômico, mas ressaltou que os investimentos em áreas como agricultura continuarão no Brasil. Ela mencionou o Plano Agrícola e Pecuário 2015-2016, lançado na semana passada, que prevê R$ 187,7 bilhões para custeio e investimentos no setor.