sexta-feira, 26 de junho de 2015

Principal programa para formação de professores deve sofrer cortes de 50% a 90%

E-mail de coordenador a gestores informa que haverá redução drástica no Pibid, que tem 90 mil bolsistas no país




Desde 2012. Janaína é bolsista do Pibid e já viu alunos em colégios que atuou entrarem na universidade e se tornarem beneficiários - Reprodução / Reprodução
RIO - Em 2012, Janaína Ribeiro, estudante de Química na Universidade de Brasília (UnB), resolveu entrar no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) porque queria aumentar a sua renda. Na iniciativa, a aluna atuaria em uma escola pública para aprender a dar aula. O resultado foi melhor do que o esperado: o professor que a supervisiona conseguiu trazer mais dinamismo às aulas com sugestões de atividades trazidas pelos bolsistas e os alunos ficaram mais motivados.

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Porém, o programa que fez Janaína se apaixonar pela sala de aula deve sofrer severas restrições. Em um e-mail distribuído para professores universitários ligados à iniciativa, Hélder Silveira, coordenador geral de Programas de Valorização do Magistério da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), afirma que haverá cortes que podem gerar interrupção total ou parcial no Pibid:
“Sempre tento ser portador de boas notícias, mas nem sempre conseguirei sê-lo. Todos têm acompanhado o ajuste fiscal que o governo federal tem realizado no ano de 2015. Isso implica em cortes orçamentários e em retrações nas ações de todos os setores. A Capes não fugiu à regra. O corte imposto à agência foi da ordem de R$ 785 milhões”.
Somente na Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica (DEB), da qual faz parte, o coordenador identifica mais de dez programas que devem ser “fortemente afetados com cortes, inclusive, na concessão de bolsas que estão em vigência, a partir de julho de 2015”.
No e-mail, o gestor afirma que houve esforço por parte da DEB em demonstrar a necessidade dessas iniciativas, mas que espera forte impacto em suas contas com o ajuste fiscal.
“O que sabemos, de fato, é que os cortes virão e serão agressivos, implicando na interrupção imediata — parcial ou total — de programas estruturantes da diretoria como o Pibid”, escreveu Hélder.
Segundo o Fórum dos Coordenadores Institucionais do Pibid (Forpibid), Hélder afirmou através videoconferência durante uma reunião do diretório nacional do grupo que o melhor cenário de corte para o programa será na ordem de 50% e que o impacto pode chegar de 75% a 90% até o final do ano. Atualmente, são 90 mil beneficiados.
O Pibid é visto como um dos programas estratégicos para a melhoria da educação básica, por se propor a fazer a ponte entre o mundo universitário e o banco da sala de aula. Nele, os bolsistas possuem coordenadores em suas graduações e supervisores nas escolas onde atuam para acompanhar seu desempenho. Para o estudante, a bolsa é de R$ 400.
— Quando entrei, foi até pelo dinheiro. Depois você vê que é quase simbólico, porque o gasta com passagem, por exemplo. Mas é uma formação muito importante. Quando soube dos cortes, fiquei chateada. Já vi alunos para quem dei aula irem para a faculdade e também conseguirem entrar no programa. Fico pensando agora o que os próximos estudantes vão perder — afirma Janaína.
AJUDA EM DISCIPLINAS COM CARÊNCIA
Assim como a brasiliense, quase quatro mil bolsistas também eram de Química. A disciplina é carente de professores no país e tem no programa uma ajuda para suprir esta demanda. Outro caso é o da Matemática, área com o maior número de bolsistas e a que apresenta mais falta de docentes na rede.
A mudança na realidade da sala de aula é afirmada por quem faz parte do programa. Professora de História há 20 anos, Ana Margaret do Vale viu seu cotidiano mudar na Escola Estadual Balthazar Bernardino, em Niterói, com a chegada dos bolsistas do Pibid:
— Eles trouxeram uma dinâmica totalmente nova. Para os meus alunos, trouxeram uma série de atividades que, sozinha, não consigo fazer. Quanto aos bolsistas, eles ganham experiência e saem da faculdade mais preparados para dar aula. Quem dera se eu tivesse tido isso no meu tempo.
A professora conseguiu viabilizar mais visitas a lugares públicos, criar aulas interativas, e diz também ter aprendido com os bolsistas:
— A gente está no meio de projetos importantes. Se as bolsas forem canceladas, será uma grande perda. Os prejudicados são os alunos do ensino básico. A gente vê que eles tiveram uma melhora substancial no desempenho depois do projeto. É um balde de água fria — constata.
A mesma sensação é vivida por Emmily Virgínio de Macêdo, aluna da Autarquia Educacional de Afogados da Ingazeira, em Pernambuco. Com estudos em pedagogia focada em novas tecnologias, a estudante diz que perder a bolsa também é dar um passo atrás nesta pesquisa.
— Quando todos estão se perguntando o que fazer com as tecnologias no ensino, com o Pibid temos condições de tentar responder a estas perguntas — afirma. — É com programas como esse que a universidade e a escola podem pensar em como usar as tecnologias como novo método de ensino. O corte é um retrocesso.
CAPES AFIRMA QUE PROGRAMA CONTINUA
Para o professor Marcus Dezemone, um dos coordenadores do Pibid de História na Universidade Federal Fluminense (UFF), as restrições no programa afetam toda a educação.
— São vários os exemplos que mostram como o Pibid não atua somente com o aluno da universidade. Já dá para ver seu impacto na redução da evasão e na retenção na educação básica.



Corte. Emmily diz que é retrocesso - Reprodução / REPRODUÇÃO
Por se tratar de uma iniciativa que lida com escolas públicas, o professor lamenta os cortes feitos pelo MEC.
— A prática tem que ser o critério da verdade. Não adianta o ministro dar uma dessas declarações (de que o ensino básico será preservado) e depois tomar medidas que vão atingir programas como esse. O que eu espero é que o bom senso prevaleça e que a Pátria Educadora não seja um mero slogan.
Procurada pelo GLOBO, a Capes disse que está em “permanente diálogo com o MEC, de forma a garantir a manutenção dos programas e ações estruturantes e essenciais”.
“Ressaltamos que não haverá interrupção de programas em funcionamento, bem como não há, até o presente momento, qualquer decisão quanto a eventuais contingenciamentos em programas específicos no âmbito da Capes”, afirma a nota.
Entretanto, o término do e-mail do professor Hélder Silveira para os gestores do Pibid em que anuncia os cortes termina menos otimista. Ele diz esperar que “nos próximos comunicados tenhamos notícias melhores, e (...) superemos este momento delicado e preocupante que assola importantes ações voltadas à valorização da formação de professores no país e que fogem à nossa governança”.

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