quarta-feira, 15 de julho de 2015

Seita pediu suspensão de remédio a mulher que sumiu após ritual, diz filha

Ela tomava medicamentos controlados para depressão sob orientação médica.
Participantes disseram que ela ficou perturbada após tomar chá e sumiu.

A filha da auxiliar de enfermagem Deise Faria Ferreira, de 41 anos, desaparecida após participar de uma seita religiosa Santo Daime, em uma chácara de Goiânia, disse que a mãe parou de tomar medicamentos controlado a pedido dos integrantes dessa reunião. Ela fazia uso dos comprimidos, entre eles antidepressivos, sob indicação psiquiátrica. "Eles [integrantes] proíbem, falam que fecha o chacra, que não pode nenhum tipo de remédio, nem para dor de cabeça ou cólica", disse a filha Apoena Faria de Souza.
Familiares também contaram que existem mensagens no celular de Deise que comprovam isso. Nas conversas, os integrantes falavam que esses medicamentos não faziam bem a ela. “[Nas mensagens] Ela falava que estava com vergonha do padrinho, como eles chamam o líder, por estar se intoxicando com esses venenos. A pessoa retornou falando que ela faria o tratamento no sábado e que tudo ia melhorar. Eles são contra o uso de remédios”, disse a irmã, Keila Faria.
saiba mais - Mulher desaparece após ir a ritual de Santo Daime em chácara em Goiânia
A principal hipótese investigada pela polícia é de desaparecimento. Segundo a polícia, mesmo com a demora dos membros em comunicar o desaparecimento da mulher e com o longo período de buscas ainda sem pistas, não há motivos para se trabalhar com a suspeita de homicídio.
O Corpo de Bombeiros ainda faz buscas na chácara onde ocorreu o desaparecimento. Até o momento, só foram encontrados apenas peças de roupas da Deise. Segundo a Polícia Civil, foi encontrada uma mancha na blusa que seria da auxiliar de enfermagem. Entretanto, ainda será feita uma perícia para tentar identificar se essa marca é de sangue ou não.
Ritual de Santo Daime foi realizado em chácara de Nerópolis, Goiás (Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)Ritual de Santo Daime foi realizado em uma chácara  (Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)

Encontros
Keila conta que a irmã começou a participar dos rituais da seita há três meses. Desde então, Deise bebia o chá indicado para limpeza espiritual. Segundo a família, a auxiliar de enfermagem passava mal todas as vezes que ingeria o líquido. Além disso, ela começou a ter problemas psicológicos.
“Ela começou a ficar falando, falando sem parar. Incontrolável e violenta com a família, se revoltou contra  a minha mãe e aí eu levei ela num psiquiatra. Na sexta-feira [10], ela suspendeu o medicamento e no sábado tomou o chá”, relata Keila.
A família teme não encontrar Deise com vida. “Um monte de gente numa chácara deixar essa pessoa sozinha sumir, sem nada, eu não tenho esperança de encontrar com vida mais”, lamenta a irmã da desaparecida.
Desaparecimento
A auxiliar de enfermagem Deise Faria Ferreira está desaparecida desde sábado (11) quando participou de um ritual da seita religiosa Santo Daime. Segundo integrantes do grupo, a mulher ficou perturbada e saiu correndo da propriedade após tomar o chá da substância alucinógena ayahuasca.
Cerca de dez pessoas estavam na chácara para o ritual, na noite de sábado. A família de Deise só foi comunicada do desaparecimento quase 24 horas depois de ela ter sido vista pela última vez. De acordo com a irmã da auxiliar de enfermagem, Keila Faria, na noite de domingo (12), um homem a informou do ocorrido e entregou o carro dela.

As buscas começaram na tarde de segunda-feira (13). No mesmo dia, algumas peças de roupa de Deise foram encontradas em uma ribanceira próxima à chácara. “A gente trabalha com todas as hipóteses. Até essa pessoa ser encontrada, a gente vai apoiar a família e a Polícia Civil”, afirma o tenente do Corpo de Bombeiros Danilo Pires.
Chá alucinógeno
O chá da ayahuasca é famoso por seu uso no Santo Daime e por suas propriedades psicotrópicas. O Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas autoriza sua utilização para fins religiosos, mas proíbe a exploração comercial. Não existe, no entanto, normas que regulem a exportação.
Há milênios, a ayahuasca tem sido adotada pelas populações nativas da Amazônia brasileira e andina para curas, adivinhações, entre outras finalidades.